27.11.05

Cada vez mais inquieto

Vem no Semanário Económico deste fim-de-semana:
«Conservatórias do País estão bloqueadas
Director Geral e Secretário de Estado em guerra
O sistema informático das conservatórias do Predial não tem capacidade para dar resposta aos múltiplos pedidos. Esta semana o caos estava instalado. E tudo devido a uma guerra política.»
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E agora um excerto do artigo de opinião de João Vieira Pereira, do mesmo jornal semanário:
«Os três erros tecnológicos
A demissão de José Tavares da liderança do Plano Tecnológico será convenientemente riscada da história deste Governo. Da mesma maneira que poucos se lembram que um ministro de Estado se demitiu em Julho, dentro de pouco tempo só alguns se lembrarão que foi este professor universitário, doutorado em Harvard, o responsável pela elaboração do mais importante emblema socialista para a actual legislatura.»
(...)
«A bandeira do Partido Socialista caiu em desgraça e dificilmente recuperará a credibilidade que lhe é exigida. O Plano Tecnológico morreu à nascença.O choque passou a plano porque alguém descobriu a tempo que um choque tecnológico era impossível de fazer por decreto. Um plano, esse pode sempre existir. Basta haver uma estratégia definida e alguém que junte as peças e as ponha em papel. Mas em Portugal fazer alguma coisa contra os interesses instalados é muito difícil. José Tavares foi vítima desta condição endémica e errou por não perceber como funcionam as coisas neste País. O pai do choque tecnológico tomou a única decisão possível e bateu com a porta.»
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O Jornal de Notícias de hoje dá conta de mais uma grande inquietação:
«Gangues mais profissionais
Nuno Silva
Encapuzados, de caçadeira em punho e sem contemplações em premir o gatilho. Cada vez mais profissionais, seja a roubar carros de alta cilindrada, a atacar carrinhas de valores, de tabaco, ourivesarias ou estabelecimentos de restauração, a mais recente "moda" criminosa. Nos últimos meses, a região Norte tem assistido a uma proliferação de gangues de assaltantes mais "especializados" do que nunca.
(...)
"A criminalidade está cada vez mais refinada", sublinha o major Mário Antunes, responsável pela Secção de Investigação Criminal da Brigada Territorial nº 4 da GNR. "Há tempos, estes crimes violentos estavam mais associados à toxicodependência e à necessidade dos assaltantes em conseguirem dinheiro para a droga. Mas agora os assaltos são feitos por indivíduos com sangue frio, fortemente armados e verdadeiros profissionais, que estudam os alvos ao pormenor", acrescentou o major.»
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No Correio da Manhã leio um artigo de opinião da autoria de Armando Esteves Pereira:
«O azar da cigarra pouco produtiva
Se a Ota seguir o código genético das obras públicas nacionais transformar-se-á num ‘elefante branco’ desastroso.
Sem alternativa à Eurolândia. A Standard & Poor’s, uma das instituições mais importantes a nível mundial de avaliação de riscos de crédito, fez um exercício sobre o que aconteceria se alguns países abandonassem o euro. Neste exercício hipotético e felizmente pouco provável, Portugal sai com um resultado desastroso e é dos mais penalizados . Bastava o País sair da Eurolândia para as empresas e famílias pagarem mais pelo crédito.
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Sobre a famosa questão “se há vida para além do défice”, de Espanha, um dos países onde o assunto não se coloca vem uma interessante resposta. O ministro da Economia e Finanças do governo de Madrid, o ex-comissário Pedro Solbes, propôs esta semana um plano para fazer face à progressiva redução de fundos europeus, uma quebra que também vai afectar Portugal a partir de 2007. Solbes sugere o aproveitamento da bonança e do excedente orçamental do Estado para a criação de um fundo específico que substitua os actuais fundos de coesão de Bruxelas. Este caso parece uma reinvenção moderna da fábula da cigarra e da formiga. Espanha conseguiu controlar as finanças públicas e pode pensar em precaver os problemas do futuro, enquanto Portugal está afogado no défice e não consegue reservas para prever o fim dos euromilhões e a subida inevitável dos encargos com a despesa da segurança social.
(...)
Sobre a Ota apresentaram-se os estudos e o Choque Tecnológico já está no papel. O País precisa mesmo de vários choques que o retirem desta lenta agonia que o empobrece. Se o aeroporto contribuir para acrescentar valor e não se transformar numa meganegociata em que alguns enriquecem à custa dos otários que a pagarão será um projecto positivo. Mas se a Ota seguir o código genético das obras públicas nacionais transformar-se-á num ‘elefante branco’ desastroso.»
Eu até nem costumo ler o CM mas este artigo está ao melhor nível.
Estou cada vez mais inquieto.