Confesso que a minha posição sobre a construção do novo aeroporto na OTA é mais emocional do que racional ou técnica.
Sou, em regra, muito céptico e muito cauteloso no que aos grandes investimentos diz respeito. Custam dinheiro - muito dinheiro - que é de todos nós e a sua rendibilidade social (logo, económica) é de difícil mensuração, quanto mais previsão.
Os estudos são o que sabemos - podem sempre ser dirigidos com um objectivo e um resultado previamente definido).
Desconfio dos políticos que apenas querem fazer obra visível.
Desconfio daqueles cujo principal objectivo é ficarem na história, nem que isso possa custar a sustentabilidade económica e financeira da comunidade que juraram servir.
É sempre mais difícil fazer obra silenciosa, invisível aos olhos dos mais comuns, mas que gera verdadeiras bases para o futuro.
Por exemplo, a aposta na ciência e tecnologia é muito fraca em Portugal.
A aposta na investigação também, apesar de hoje o panorama poder ser um pouco melhor do que era há 10 anos atrás.
A aposta no desenvolvimento sustentável, num Portugal mais limpo, respeitador dos ecossistemas, da biodiversidade, na implementação generalizada de Agendas 21-Local em todos os municípios, a introdução de critérios qualitativos de aferição de projectos que são candidatados a fundos comunitários, a exigência pelo rigor e disciplina, o gosto que não se ensina pela arte, a música, o conhecimento, a sabedoria, a plurisdiscipliariedade de que é feita hoje uma cidadania activa e consciente, entre outros aspectos, não se faz no meu país como deveria e como eu gostaria.
Portugal é um mundo ao contrário.
A larga maioria dos decisores pensa primeiros nos grandes resultados, nas grandes empreitadas, confundindo-os com os desígnios de fundo, os grandes desígnios da Nação.
Fica quase sempre por fazer o mais difícil, o mais penoso, o que menos proveitos rende no curto ou mesmo no médio prazo: a aposta nas pessoas, na sua valorização pessoal, cultural, técnica, científica, económica e social.
Por isso, por tudo isso, é que sou tentado (muito tentado) a não dar qualquer apoio a esta aventura quimérica de um louco, que consiste em construir aquilo que, verdadeiramente, pode ser importante mas não é prioritário, logo, não pode ser estrategicamente uma aposta consistente, com densidade para ser levada a sério.
Alguns ficarão mais ricos. Por certo que sim, contudo, Portugal continuará a ficar, progressivamente e inapelavelmente, mais pobre.
Até quando? Porquê? Como?
Tenho pena de ter tido filhos neste País. Se pudesse voltar atrás, teria saído daqui em bom tempo, para os poder colocar num país a sério, com futuro.
Infelizmente, nasci com a sina de ter de assistir a tudo isto. E a muito mais que já assisti e já me chega (e sobeja) para encher várias páginas em branco de histórias assombrosas de pavor.
É por isso que me inquieto. Não só por mim ou pelos meus filhos; pelos filhos de Portugal, país sem rumo, país entregue à "bicharada" (não quero polemizar com o termo "bicho" nem "bicha"), não só de agora, mas de há alguns anos a esta parte.
A política, a cousa pública, a arte de bem governar, não devia ser permitida a todos. Exige muito do que não vejo na generalidade da classe política.
Não sei bem definir o perfil adequado.
Por outras palavras, posso não saber bem o que quero, mas sei muito bem o que não quero!